HISTÓRIA DE CARNAVAL – POR GERALDO NUNES – 15.02.23

InformaSamba

Dor e amor convivem nos desfiles de carnaval

Existem fatos que acontecem e depois vão parar nas lembranças do inconsciente coletivo e nas conversas de botequim. Assim, casos verdadeiros se misturam à imaginação e à fantasia e passam a fazer parte da mitologia do carnaval. Mas tudo o que será contado nesse texto aconteceu de verdade.

Uma escola de samba desfilava e sua principal representante, a rainha de bateria, linda, cobiçada e amada por todos na avenida, deixa a passarela e segue direto para o pronto-socorro, com o risco até de morrer. Isto aconteceu em São Paulo, no Sambódromo do Anhembi – Carnaval 2006.

Nani Moreira, então rainha de bateria da Escola de Samba Mocidade Alegre desfilava e de sua fantasia eram lançados fogos de artifício. De repente, um dos rojões explode em seu corpo e lhe causa sérias queimaduras. Foi um triste fato, porque se tratava de uma rainha convidada, não apenas por sua beleza. Ela sempre viveu o samba e já havia desfilado como passista em desfiles anteriores.  

Naquele ano em que desfilou de rainha, participou de todos os ensaios que antecederam o desfile, dois deles, inclusive, com os fogos de artifício colados em seu corpo e nada de grave aconteceu.

O infausto, entretanto, se deu justamente com a casa cheia e o público presente nas arquibancadas do Anhembi assistiu tudo. Nani sofreu queimaduras de terceiro grau, especialmente em uma das mãos. As dores terríveis a fizeram desmaiar, levada ao hospital em uma viatura do SAMU quase teve uma parada cardíaca. Reanimada, precisou passar no dia seguinte por uma cirurgia, a primeira de uma série delas. Ficaram as cicatrizes.

Nani conta que a princípio buscou afastar de si qualquer tipo de trauma, jurou que não guardava mágoas do carnavalesco porque concordou com tudo o que havia sido proposto. A escola, naquele desfile, perdeu pontos por causa do incidente e não pode ser campeã. A comunidade impressionada com fato nem se preocupou com a perda do título e deu graças a Deus pela sobrevivência de sua rainha.

Naquela mesma semana, Nani Moreira participou do desfile das campeãs com uma das mãos enfaixadas. No carnaval seguinte, participou com adereços que cobriam as queimaduras. Deixou o legado de que apesar da dor, os desfiles de carnaval também servem para expressar um ato de amor.