São Paulo 469 anos – por Geraldo Nunes – 24.01.23

Turismo

São Paulo 469 anos: O Pátio do Colégio ajuda a contar sua história

Após a inauguração da primitiva igreja do Colégio de Piratininga pelos padres jesuítas, em 25 de janeiro de 1954, o primeiro nela a ser batizado foi o chefe indígena Tibiriçá, em 8 de fevereiro daquele mesmo ano.

O cacique pai de Bartira, esposa de João Ramalho, foi também o primeiro a ser sepultado, em 1562 na igrejinha, cujos restos mortais seguiriam séculos depois para a cripta da Catedral da Sé. Em 1588 se decidiu construir uma igreja matriz no largo onde hoje está a Praça da Sé. A inauguração aconteceu em 1612, não no lugar onde está a atual catedral, mas na altura de onde se encontra a saída da Estação Sé do Metrô. Mais abaixo, onde fica o atual prédio da Caixa Econômica Federal, ergueu-se uma igreja vizinha em devoção a São Pedro.


O Marquês de Pombal, uma espécie de primeiro-ministro português, decidiu expulsar os jesuítas do Brasil, em 1759 e todos os bens da igreja foram entregues à coroa. Isto fez com o prédio do colégio passasse a servir de residência aos governadores e em frente ao mesmo se abriu um largo. Ao lado deste “Largo do Palácio”, se construiu Teatro da Ópera, o primeiro da cidade, cuja iluminação se dava através de um lustre onde eram colocadas quantidades enormes de velas acesas.

Foi neste teatro que aconteceu a recepção festiva para Dom Pedro, na noite do 7 de setembro de 1822, horas depois dele ter proclamado a Independência do Brasil, às margens do Ipiranga. Diz a lenda que inspirado, ali teria o príncipe dedilhado os primeiros acordes do nosso Hino da Independência.


Instituído o Império, se fazia necessária a instalação de um corpo militar do Exército Brasileiro, na Província de São Paulo. O povo, entretanto, demonstrava ter horror ao serviço militar e ninguém se apresentou como voluntário. Houve então uma trama, a população foi convidada para uma festa no Largo do Palácio e a certa altura registrou-se um corre-corre, com rapazes em desabalada fuga. O capitão-general Martim Lopes mandara barrar as saídas do largo para assim agarrar à força os indivíduos que na marra, tiveram que ingressar no serviço militar.

Mais adiante no período republicano, em 1891, o edifício do Palácio do Governo serviu de sede para as reuniões da Assembleia Estadual Constituinte, a primeira da República, no Estado de São Paulo. Em 1896 se decidiu pela demolição completa do que ainda restava do antigo colégio jesuítico. Nas proximidades, o governo fez construir um prédio para a repartição de polícia, vizinho ao Solar da Marquesa de Santos, construído no século 18, na então Rua do Carmo.


Depois, com projeto do arquiteto Ramos de Azevedo, foram feitos dois edifícios no lugar onde antes estava o Teatro da Ópera, um deles para a Secretaria da Justiça e outro para a Secretaria da Agricultura. Esses prédios ainda estão lá. Na mesma época, o Solar da Marquesa foi adquirido pela Companhia de Gás de São Paulo que ali manteve seu escritório por muitos anos.

Para as comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo, se construiu uma réplica da igreja dos jesuítas nos moldes da que fora desapropriada em 1759, se preservando duas paredes e o Pátio do Colégio voltou a ter um rosto quase original.

A partir da década de 1970, as ruas do antigo centro se transformaram em calçadões que agora passarão por reforma na área compreendida do antigo triângulo formado pelas ruas São Bento, Direita e 15 de Novembro. A ideia é revalorizar a área em torno do Pátio do Colégio, uma das mais ricas fontes históricas quando se fala da São Paulo de outrora e de todos os tempos.

Geraldo Nunes
Jornalista, historiador e escritor
Integra a Academia Paulista de História/APH e Academia Cristã de Letras/ACL
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